domingo, 25 de dezembro de 2011

Solaris


Quando eu lembro deste filme, me bate uma tristeza. O que acontece quando você pega um clássico da ficção científica, junta com James Cameron, Steven Soderbergh e o George Clooney? É lógico que vai dar merda!
Vou tentar ser um pouco justo. Acho o filme uma porcaria, mas pelo menos os caras tentaram. Solaris, para quem não sabe, é um clássico da ficção científica. Não é uma história cheia de aventuras, ou lutas, ou com baboseiras pseudo-científicas. A história é lenta, explora a fundo os personagens e tenta abordar temas pouco simples. Esta adaptação não tentou fugir para ação barata ou algo deste tipo, e pelo menos isso eu devo reconhecer.
Então qual é o problema? É simples. O filme joga fora as maiores qualidades do livro no lixo e tenta colocar outras no lugar. Vamos à "historinha" e já explico.
Chris Kelvin é um psicólogo que é chamado para ir à estação espacial que orbita o misterioso planeta Solaris. Seu amigo, Gibarian manda uma mensagem, pedindo que ele vá até à estação para investigar fenômenos estranhos, mas não dá explicações sobre os fenômenos em si.
Ao chegar à estação, Kelvin descobre que o seu amigo, e vários outros membros da tripulação viraram presuntos, e os outros dois tripulantes não querem explicar o que está acontecendo.
Kelvin então, como não tem porra nenhuma pra fazer, vai tirar um cochilo. Quando acorda, toma um susto do caralho: sua ex-mulher-morta-que-se-matou aparece do lado dele na cama, toda sorridente, serelepe, cheia de amor para dar. Um joão-ninguém qualquer ia aproveitar, mas Kelvin, um cara sagaz, esperto e compreendedor da mente humana, fica boladinho. Leva ela na conversa mole, a coloca numa cápsula espacial e a ejeta que nem descarga de banheiro. Logicamente que o rapaz fica se perguntando: o que caralhos foi isso?
Aí ele aprende junto com seus coleguinhas que Solaris é um planeta filho da puta. Ele fica materializando amiguinhos imaginários para os tripulantes, e por causa disso é que os outros ficaram birutas e se mataram. Os outros tripulantes não dão detalhes sobre quais são os seus amiguinhos, mas o fato é que Rheya, a ex-mulher de Kelvin, que anos antes havia cometido suicídio, é a bola da vez, e não tem volta, porque no dia seguinte ela está de volta.
Até aqui, quase tudo bem. Várias coisas foram mudadas em relação ao livro, mas o fundamento está lá. Kelvin vai para a estação e descobre o lance dos visitantes, e obviamente fica assustado com essa quizumba toda. O problema é o tom em que isso tudo ocorre. Enquanto no livro o leitor fica roendo as unhas de tensão, no filme isso tudo acontece sem que se consiga sentir nada. E daqui para frente, a ladeira é abaixo.
O filme então descamba para uma infeliz mistura de drama romântico com filosofia barata. Kelvin inicialmente não aceita a cópia se sua ex-mulher, mas depois meio que entra numa de "foda-se" vou aproveitar. Então entendemos que ela se suicidou porque ele quis abandoná-la e obviamente isso gerou um arrependimento profundo nele. Depois ela entende que é uma cópia, e numa reunião com ou outros tripulantes, ela descobre que foi "descarregada". Ela fica boladinha e se mata.
Com a magia do cinema, ela revive, mas fica infeliz para cacete, porque ela é artificial e entende que sempre vai acabar se suicidando, pois é assim que o Kelvin lembra dela, e a partir desta lembrança é que ela foi criada pelo planeta Solaris.
Um dos tripulantes diz que tem uma máquina de pulverizar amiguinhos imaginários, mas Kelvin não quer perder novamente a sua mulher. Rola uma discussão safadíssima sobre ética, certo, errado, amor e outras breguices. Ele toma uns lolós para ficar acordado, mas acaba dormindo e Rheya se mata com a ajuda do desintegrador de amiguinhos imaginários. Depois disso tudo, eles descobrem que um dos tripulantes na verdade é um amigo imaginário, que matou o original em defesa própria. Ele diz que depois de pulverizar tantos amiguinhos a estação está ficando sem energia e além disso, Solaris está aumentando sua massa e vai engolir a estação. Kelvin e o outro tripulante dizem que é hora de dar tchau e fogem numa nave de fuga.
Nessa hora, Steven Soderbergh não teve amigos. Um amigo sequer para falar: "Cara, para por aí, senão vai dar merda."
É óbvio que a história não para por aqui. Kelvin está de volta em casa, preparando uma comida, pensando na morte da bezerra (ou da esposa?), e então se corta. Mas a mão dele não sangra, e começa a se regenerar que nem uma cópia de Solaris. Aí, num flashback safado, vemos que na última hora ele não entrou na nave de fuga e ficou para ser engolido pelo planeta zoador de mentes. Como Hollywood gosta de finais felizes, não só Kelvin volta como cópia para a Terra, Rheya também volta. Eles se perdoam e vivem felizes para sempre. The End.

Cara, na boa, qual o propósito disso tudo? E aonde o planeta se encaixa nisso? Sim, o planeta fez os visitantes, mas ao contrário do livro, Solaris (que afinal de contas dá o nome à obra) é deixado de lado como um mero catalizador de reações humanas, enquanto na obra escrita a dificuldade dos personagens entenderem o planeta e constatação deste fato são elementos centrais da trama.
No filme, a ficção científica é uma desculpa para se contar um dramalhão romântico disfarçado por alguns farrapos de filosofia e um final idiota, previsível para deixar idiotas satisfeitos.

Nota: 2,0.