terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Núcleo


Isso aí pessoal, hora de chutar cachorro morto. O Núcleo, de 2003, é talvez o exemplo mais recente de ficção científica barata, mal feita e sem sentido. Um filme B com orçamento privilegiado e nada mais do que isso.
A premissa inicial do filme é que o campo magnético da Terra está todo zoado. Vários casos estranhos acontecem, como pássaros morrerem do nada, tempestades super fortes e sistemas de navegação serem afetados. Aí o cientista genérico do filme descobre que o núcleo do planeta parou de girar e isso está matando o campo magnético. É isso. A premissa é essa, e a imbecilidade dela impressiona. De fato, o campo magnético da Terra é produzido pelo movimento do núcleo ferroso, mas alguém parou para pensar o que de fato aconteceria se o núcleo parasse de se mover subitamente? Acreditem amiguinhos, eu estaria muito mais preocupado com a inércia do planeta do que com o campo magnético. Outra coisa, o nosso magma é quente companheiros, e mesmo que fosse possível pará-lo, em algum tempo ele voltaria a se mover por efeito de convecção. Pois é, uma criança com um mínimo de estudo consegue ver que o filme está todo errado.
E aí, o que vai ser feito? Não é muito difícil de adivinhar. O governo consulta os cientistas genéricos de filmes e eles chegam à conclusão de que eles precisam fazer o núcleo girar novamente, e que a melhor maneira de fazer isso é ir até o núcleo, (sim, cavar um buraco e mandar um caboclo até lá) e jogar uma bomba nuclear para fazer a Terra pegar no tranco (é tão ridículo que chegam a usar essa frase no filme). 
Eu entendo a necessidade de se ter alguma emoção no filme, mas pare para pensar: ISTO NÃO FAZ O MENOR SENTIDO!!! Primeiro, se você é capaz de cavar um buraco para mandar um ser humano para o núcleo pastoso do planeta, não é mais fácil simplesmente cavar o maldito buraco e largar a bomba lá? E daí para frente caros, a vaca só se afunda mais nesse brejo.
Como eles precisam de história (ruim) para o filme, então eles preferem mandar uma meia dúzia de otários para o c* do mundo e precisam dar um jeito ir até o centro da Terra. Obviamente eles montam uma equipe extraordinária e em alguns meses eles conseguem criar dispositivos e tecnologias absurdas para fazer a tarefa.
Logo já temos a primeira "montagem" do filme, aonde eles reúnem todas as pessoas da equipe:
Temos alguém para pilotar o tal veículo tatuzão, que neste caso são dois: um coroa e uma piloto de ônibus espacial, que nesse caso é a Hillary Swank.
Um geólogo. Sim, se você está no centro da Terra você precisa de um geólogo, e nesse caso ele é interpretado pelo Aaron Eckhart, hoje mais conhecido pelo Harvey Dent do Batman: Dark Knight.
Temos um cientista fodão e arrogante, que ninguém sabe o que ele realmente sabe, mas em filmes o cara pode ser simplesmente um cientista genérico que tá tudo bem.
Hackers. Lógico, se você vai cavar um buraco na Terra você precisa de um hacker! A desculpa usada era que era necessário usar um hacker para controlar todo o fluxo de informação da internet (ahahahahahahahahahaha) para evitar uma histeria em massa. 
Existe também um especialista em armas nucleares e temos o inventor esquecido no meio do deserto, que vai mostrar aos caras como fazer para ir até ao centro da terra. 
Ao encontrarem o tal caboclo que vive no meio do deserto, verificam que por acaso ele conseguiu desenvolver, sem dinheiro nem ajuda de ninguém, um laser que consegue passar por qualquer rocha e um material mágico que aumenta sua resistência proporcionalmente à temperatura e à pressão externa e ainda gera energia. Depois de umas vinte piadas e clichês completamente previsíveis, começa o segundo momento "montagem" (pelo jeito só uma montagem não ia encher linguiça suficiente nesse filme), aonde a equipe é treinada com simuladores que surgiram do nada, a máquina é montada e ao mesmo tempo são mostrados vários acontecimentos catastróficos ocasionados pela perda do campo geomagnético.
Depois dessa enrolação toda, começa a palhaçada e todos os possíveis eventos previsíveis acontecem. Sabe aquelas coisas, que só olhando o cartaz do filme você saca? Primeiro vem o lançamento da tal nave, perfuratriz, sei lá que merda era aquela. Só sei que parecia uma minhoca gigante e os putos resolvem lançar no meio do mar, tentando dar uma tensão completamente desnecessária e imbecil. Se você tem uma máquina que cava rochas, você coloca ela para cavar rochas, não joga ela no meio da água!
Depois começam as mortes. Você sabe que os atores que estão sem nome no cartaz vão  morrer. É assim que acontece. Se você tem cachê baixo, você morre logo. O piloto coroa morre na primeira oportunidade, pois do contrário a Hillary Swank não ia ter destaque. Aí vem o momento "acidente dramático", aonde o especialista em armas se sacrifica e morre em um pedaço ejetado do veículo que havia sido danificado. 
Na sequência começa o momento dos personagem descobrirem vários fatos reveladores. Primeiro eles descobrem que eram burros, e que o plano vai falhar. Somente largar os estalinhos nucleares não vai adiantar. Eles precisam largá-los em pontos específicos e realizar a detonação em uma sequência para criar uma onda capaz de fazer o núcleo girar novamente. Para realizar tal feito, eles vão colocar cada bomba em um segmento da nave-minhoca e vão largar os pedaços, acionando as bombas em intervalos de tempo específicos. Aí já rola outro sacrifício previsível, que neste caso são dois em um: o do cientista que criou a nave e o do negro. Porque em Hollywood o negro tem que ser um dos que morre. Ele se sacrifica alterando um protocolo da nave que impede de separar partes não danificadas. O que eu acho engraçado nisso é como os caras acham que essas coisas acontecem: o sujeito arranca um painel e troca uns fios de lugar e tá tudo ok.  
Depois disso o restante da equipe vai prosseguindo e o grande segundo fato revelador acontece: eles descobrem que o núcleo da Terra estacionou porque uma arma secreta que deveria causar terremotos foi usada e o tiro saiu pela culatra, e o cientista arrogante fodão genérico era o chefe dessa porra toda! Ele quer usar novamente a arma com esperança de que conserte o problema mas alguém acha que não devia. E é tudo clichezento ao máximo aqui. A arma tem aquelas abreviações que viram palavras e nada disso possui alguma explicação razoável. 
Nesta hora rola a terceira montagem do filme, aonde o hacker, tendo falhado na missão de impedir a histeria mundial, tenta impedir que a tal arma ridícula seja usada novamente. Vem a musiquinha dramática, o cara concentrado na tela digitando que nem um corno, várias coisas sem o menor nexo voando na tela enquanto o cara está procurando um botão de liga/desliga da arma do fim do mundo. Tudo absurdo. E no fim das contas vocês sabem o que acontece: ele impede o uso da máquina malvada, tudo pela internet.
No fim das contas, mais coisas dão errado: os caras na nave descobrem que erraram o tempo das detonações e precisam usar o combustível nuclear da nave para adicionar uma forcinha extra na explosão. No processo o cientista fodão arrogante fica preso no último compartimento e vai pro saco. Nem vou discutir se faria sentido pegar o combustível da nave, se se seria possível ou não. A este ponto o filme está tão absurdo que virou uma feira da fruta, putaria intelectual mesmo. Casa da mãe joana.
No fim das contas, sobraram a piloto e o geólogo e a nave parada, sem combustível no meio do magma da Terra. Rola aquele momento do tipo "somos um casal e vamos morrer mesmo" mas antes deles tentarem um gansinho, eles pensam: "Nossa, a nave é feita de um material que converte energia térmica em eletricidade!" Eles começam a desencapar uns fios da nave e soldam nas paredes (sim, é ridículo assim mesmo), e do nada tudo funciona e eles escapam de maneira gloriosa.
No fim o hacker espalha na internet o que aconteceu de fato para que quem se sacrificou não ficasse esquecido e fossem reconhecidos como heróis. Que bonitinho! The end.
Resumo desta grande pilha de merda: um dos maiores estupros científicos já cometidos por Hollywood.



domingo, 2 de setembro de 2012

Dennis Ritchie

Dennis Ritchie
                                       

Em algumas semanas, terá se passado um ano da morte de Dennis Ritchie. Não é surpresa que ninguém saiba ou se lembre disso. Uma semana antes, Steve Jobs havia falecido e comovido milhões de fãs e seguidores. Ritchie sempre foi uma figura muito mais discreta, e os seus feitos impactaram a indústria da computação de uma maneira muito fundamental, mas distante do grande público.
Ritchie era um cientista e buscava resolver problemas sem pretensões de reinventar o mundo. Jobs era um empreendedor e sempre usou do trabalho de caras como Ritchie como meio para alcançar objetivos. E na minha opinião, esta é a diferença fundamental no legado deixado por ambos.
Para quem não entende da importancia de Ritchie para o mundo atual seguem alguns de seus feitos mais relevantes.
- Linguagem de programação C: se você não sabe o que é uma linguagem de programação, saiba que é através de uma que os programas são feitos. Ritchie criou o C no final dos anos 60 e início dos anos 70. C foi a primeira linguagem a ser suportada em diversas plataformas de computadores sendo a fundação dos sistemas operacionais modernos, programas e das linguagens atuais.
- Unix: deixemos algo claro aqui. Rithie não criou o Unix sozinho, mas fez parte de sua brilhante equipe. Se você não sabe o que é Unix, saiba que é um dos sistemas operacionais mais usados no mundo. Sendo inicialmente escrito em assembler (uma linguagem muito dependente da máquina aonde é programado), mais tarde foi completamente reescrito em C, tornando-o muito fácil de ser adaptado para várias plataformas. Devido ao fato de ser muito completo, capaz de rodar em máquinas modestas e conter diversos programas e utilitários já previamente construídos, se tornou uma escolha natural para a maioria dos empreendimentos, especialmente depois da AT&T tê-lo distribuido gratuitamente. Ao longo dos anos, o Unix sofreu modificações por terceiros, criando uma onda de novos sistemas operacionais, ou sistemas Unix-like, dentre eles o GNU/Linux e o NextStep, a base do OSX da Apple. O Unix também possui uma implementação robusta de protocolos de rede e se tornou uma das bases do funcionamento da Internet. Além disso, os desenvolvedores do Unix sempre tiveram em mente que o próprio sistema deveria conter sua própria documentação, incluindo os fontes do próprio Unix, o que indiretamente contribuiu ao surgimento de movimentos de código livre e aberto.
- C K&R: este foi o primeiro livro sobre a linguagem C. O título original era "The C programming language', mas se tornou mais popular pelas iniciais dos nomes dos autores:,Brian Kernighan e Dennis Ritchie. Simplesmente o livro mais popular da linguagem e responsável por moldar gerações de profissionais de informática.
Se você entendeu pouco disso tudo, segue um resumo simples: se você navega na internet, vê o seu saldo bancário no seu smartphone, ou se utiliza de qualquer sistema informatizado, existem 90% de chances de você estar interagindo com algo direta ou indiretamente influenciado por este sujeito. Este é o legado que Ritchie deixou para a humanidade. Assim como Galileu criou a semente da ciência moderna e Isaac Newton e sua geração a fizeram florescer, Alan Turing criou o embrião da computação e Ritchie e seus colegas pesquisadores a moldaram para a geração atual.
E Jobs? Ele tem seu legado especial também. Sem ele, a computação pessoal teria sido adiada por alguns anos, e aspectos de design que estão fora de minha capacidade certamente seriam muito diferentes. Mas no fim das contas, Jobs era, acima de tudo um comerciante. Ele sempre enxergou valor nos negócios, de maneira "elegante e visionária". Mas no fim das contas, se ele pudesse ganhar dinheiro vendendo lixo com a maçã estampada, ele o faria sem pensar duas vezes. E seus fãs argumentariam que seria o lixo mais incrível do mundo.
Pronto MacFags, podem me xingar.

domingo, 26 de agosto de 2012

A Origem


Inception, ou "A Origem" como foi veiculado no Brasil, arrebatou os cinemas em 2010, sendo elogiado por vários críticos e por boa parte do público, sendo uma das maiores bilheterias do ano. Me lembro que quando fui ver esse filme fiquei realmente muito curioso, por vários motivos. O primeiro era porque Christopher Nolan estava na direção, o segundo era um bom elenco e o terceiro era porque alguns conhecidos meus haviam rasgado elogios ao filme. Segundo esse povo, o filme era "revolucionário", "de outro mundo", "inovador", etc...
Bem caros, eu gosto do filme, de verdade. Um filme bacana, (quase) não insulta a sua inteligência, com boa direção, boas atuações, efeitos bem usados. Tudo no lugar. Mas tem um problema. Definitivamente não é a última coca-cola do deserto. Isso não deveria ser um demérito, mas para um filme rotulado como "inovador" isso é abaixo da expectativa. Mas vamos à história.
Em uma realidade alternativa, existe uma tecnologia que permite que pessoas compartilhem sonhos. Pessoas mais habilidosas conseguem manipular aspectos do sonho e inclusive retirar informações da mente de outras pessoas, um crime. Leonardo DiCaprio é Cobb, um ladrão de mentes extremamente talentoso, mas que não pode voltar para casa por ser procurado. Logicamente o filme não taca isso na tua frente logo de cara. As cenas iniciais de surpreendem pelo surreal e aí você vai sacando o porque daquela viagem doida ocorrer. 
O filme começa a engrenar quando é oferecido a Cobb um trabalho especial. Saito, um milionário asiático, interpretado por Ken Watanabe, quer que Cobb, ao invés de extrair uma informação, desperte uma ideia em uma pessoa. Basicamente ele quer que o herdeiro de sua maior concorrente desmantele seu império recém adquirido, pois do contrário, Saito fatalmente perderá seu negócio atual. A criação de uma ideia teoricamente seria impossível, mas Cobb, sempre auxiliado por Arthur (Joseph Gordon-Levitt) aceita o serviço, alegando que ele é capaz de fazer a bagaça. 
Até aí, tudo bem. o filme tem uma premissa legal, e uma tarefa complicada a ser feita pelos personagens. Mas é aí que a vaca começa a atolar. Depois desse início promissor, se prepare para a maior taxa de clichês por minuto. Começa aquele momento "Onze homens e um segredo" aonde o time mais sinistro do mundo é montado para realizar o roubo do século.
Primeiros temos o cara das químicas. Sim, o sonho que vai ser usado é tão sinistro, que é necessário um cara para fazer um loló especial. Na maioria dos filmes de ação esse seria o cara do explosivo, ou das armas.
Depois temos o cara do disfarce. Sim, temos um cara do disfarce. Ele não se disfarça na vida real, mas nos sonhos ele consegue personificar outras pessoas.
Aí temos a jovem que consegue pensar nos cenários sinistros para os sonhos. É o típico estereótipo do jovem talentoso, que é um prodígio mas ao longo do filme é inseguro, mas no fim, dá um jeito de resolver a parada com alguma jogada inteligente.
Temos o cara dos planos. Sim, é o cara sério do grupo, que junta informações e deixa tudo arrumadinho para o roubo sair certo.
E logicamente temos o líder dessa parada toda. Cobb é o melhor ladrão de sonhos mas ele tem um trauma. Ele conhece a jovem arquiteta, ensina o que sabe para ela, e junto com ela supera seu trauma e alcança seus objetivos. Notem que este é um estereótipo duplo, pois além de líder da equipe, ele é uma cópia de quase todos os papéis do Tom Cruise.
O filme passa um bom tempo nessa lenga-lenga, mostrando o grupo ensaiando e melhorando para executar o crime perfeito e ao mesmo tempo, o filme vai mostrando ao espectador como algumas regras desse lance de sonhos manipulados funcionam. E aí, se você for um pouco esperto, percebe que esse filme copia muita coisa de The Matrix. É quase tudo igual. Primeiro, os personagens dormem enquanto interagem com uma realidade alternada. Segundo, nestes mundos existem regras específicas. Terceiro, os personagens possuem habilidades que permitem terem habilidades especiais ou são capazes de manipular o ambiente à sua volta. Quarto, existe um perigo associado que envolve a morte ou a uma quase morte nessa realidade. Quinto, os personagens possuem papéis bem específicos, e possuem designações como "Arquiteto", "Químico" ou "Telefonista". Esse conceito é uma cópia cuspida e escarrada, porém com uma história menos pretensiosa e mais focada no ato do crime perfeito, o que nos leva à conclusão de que A Origem é uma soma de The Matrix com Onze Homens e um Segredo, com uns respingos de filmes do Tom Cruise.
O roubo começa e a chapa esquenta, pois no sonho, a mente da vítima é militarizada. Cara, é sério. Aparecem uns sujeitos de palitó e gravata atirando nos ladrões, que nem os agentes de The Matrix. Eles conseguem escapar temporariamente e iniciam um segundo sonho dentro do primeiro e finalmente depois de muito perrengue, iniciam o terceiro e último sonho, aonde o crime de fato acontece.
Lógico que durante essa brincadeira toda muitas coisas acontecem e é contado qual o terrível trauma de Cobb, como isto se relaciona com o fato dele ser capaz de criar uma idéia na mente de alguém e logicamente como todos os amiguinhos superam seus problemas e tem um final feliz. No final, temos a cena janjão na qual deixa o espectador com dúvida se o roubo funcionou de fato ou não.
O que sobra? Bem, é isso. Sobra aquela sensação falsa e pretensiosa de dúvida profunda e uma penca de personagens rasos que nem um pires.
O filme é ruim? Não, mas é extremamente esquecível. O melhor filme de Nolan continua sendo Amnésia.

Nota: 6,0