terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sinta o sangue fluir para os seus músculos e ouça os ossos quebrando.

Talvez o nome deste post seja dramático demais mas reflete algo que eu pensei quando eu tinha 12 anos. Essa pode ser uma época muito boa para qualquer garoto mas para mim foi uma época não muito boa. Eu não posso reclamar da minha vida em nenhum ponto (casa, comida, roupa lavada) mas entre meus 11 e 14 anos eu lembro que pelo menos um quarto do meu dia era ruim. Porra, num dia em que um terço passo dormindo e 1 quarto é uma merda, sobra pouco tempo de coisa boa.
Como alguns podem já ter adivinhado esse um quarto do dia era na escola.
Mas o caro leitor pode perguntar:
"Oh trovador, que horrores tu sofreste na época de colégio?"
Bem, olhando hoje não foi exatamente um horror mas certamente feriu o meu ego na época. Uma escola pode ser um ambiente muito cruel. Você fica reunido com umas 30 outras pessoas e a maioria delas não gosta de você e se você tiver sorte fingem que gostam de você. Se você achar algumas que gostem você tem sorte (felizmente posso dizer que tive sorte, mas bem mais tarde). Nessa época eu fui bem azarado. Bem o desastre era que eu era ZOADO. Porra, isso é mais do que o normal, mas eu como sempre era um rapaz muito ingênuo. Eu pensava, porque??? O que eu fiz pra esse idiota ficar mexendo comigo? É tão difícil me deixar quieto no lugar?
Eu certamente era muito fechado (tenho dificuldades com isso até hoje) mas naquela época esse tipo de coisa me fez ser mais fechado do que o normal. Por anos eu não me expressaria, portanto não escrevi nada, nem aprendi a tocar nenhum instrumento muito menos desenhei (um pouco na carteira do colégio) ou aprendi alguma arte marcial. Eu acumulei muita coisa. E a maioria era raiva. Quando eu era muito mais moleque, com uns 6 anos os meus colegas me batiam (nunca muito) e eu nunca reagia. Sempre me pareceu MUITO estúpido reagir, porque isso não faria bem pra ninguém. Eu nunca realmente me machuquei então creio que por isso não tentei bater de volta em ninguém. Mas logo esse tipo de atitute não surtiria efeito algum. Mas sabe, agressão física realmente pode machucar mas não existe nada pior do que uma alma agredida. Com os meus 11 anos eu tive um período letivo um pouco infeliz. Eu passei nas matérias da quinta série com os pés nas costas mas todo os dias eram ruins porque tinha alguém para descontar suas frustrações em mim. Fora as pessoas que achavam que eu era um CDF só porque eu sabia SOMAR e SUBTRAIR enquanto a maioria das pessoas nem sabia soletrar seu próprio nome.
E pra melhorar eu estudava num colégio de burquesinhos de merda aonde se você não tivesse as melhores coisas algumas vezes você era tratado como merda. Resumindo: eu era o nerd (sim sou até hoje) que era um bom alvo de zoações.
Isso me frustava muito porque na minha pobre cabecinha eu acreditava muito numa lei de ação e reação. Ou seja se eu ficasse na minha eu ia passar o dia tranquilo numa boa. Mas isso não aconteceu. Por muito tempo ir na aula era uma grande merda. Mas como eu falei, eu sempre fui fechado. Então caros eu sempre era uma bomba relógio ambulante. Eu tinha válvulas de escape, como destroçar meus dedos no video game, mas nenhuma dessas válvulas realmente liberava uma coisa que eu sei que é ruim pra alma: raiva. Como eu disse eu não contava pra ninguém, nem escrevia (porque eu sabia que a minha mãe fuçava minha coisas) nem nada.
Isso leva ao nome do tópico. Muitas vezes me vi pensando no que fazer para esse tipo de suplício passar. Eu me imaginei afundando a ponta do compasso nas costas das pessoas, levar estiletes e todo o tipo de coisa idiota (MAS TODAS PERFEITAMENTE VIÁVEIS) que poderia machucar e idiota como eu era até MATAR.
"Trovador, então tu tinhas extintos ASSASSINOS?"
Bem, posso dizer que não. Porque bem ou mal eu NUNCA fiz uma merda dessas.
Creio que a minha experiência mais traumática tenha sido na sexta série. Eu era zoado como sempre, mas nada que me matasse. Mas um dia a zoação veio de uma maneira que me fez ser uma pessoa muito pior. Uma menina. Caralho, a dita cuja era uma vagabunda (e ainda era prima do cara que mais me irritava na quinta série, o que prova que a idiotice é passada pelos genes) que inventou de caçoar com uma coisa que nem eu conhecia direito. Meus sentimentos. Pode parecer uma papo boiola (é meio idiota mesmo, fazer o que) mas ela ficava claramente me zoando falando que me amava e que queria ser minha namorada. Bem, primeiro, a minha auto estima já era meio baixa então mesmo que ela estivesse falando a verdade eu DUVIDARIA (muito anos depois eu descobri que tinha uma menina na quarta série primária que gostava de mim mas eu simplesmente duvidava da idéia de que alguém poderia gostar de mim), e ainda ela falava de uma maneira que claramente era uma mentira. Mas ela e as amigas gostavam de ver a minha reação desconcertada. Aquilo me frustava de uma maneira horrível. Pela primeira vez fiquei com notas abaixo da média (o que fez a minha mãe me dar um esporro homérico por causa de meio ponto e prontamente mandei ela se catar). Tudo aquilo me fez sentir muito mal. E nessa época eu creio que eu tive o meu primeiro pensamento MUITO mórbido. Mais de uma vez eu me imaginei enforcando a dita cuja. Mas não era um enforcamento comum. Era um enforcamento bem feito. Eu imaginava sentir o pulso cardíaco dela nas minhas mãos, os meus polegares afundando na traquéia, e finalmente os olhos dela revirando. Talvez alguns clamores de piedade mas em geral, o processo era LENTO e SOFRIDO. Quando eu pensava nisso meus músculos dos braços ficavam retesados até o ponto de doerem e frequentemente eu mordia meus próprios lábios até sair sangue (o gosto do ferro do sangue me acalmava. Sim é bizarro.). Mas logo depois eu me sentia muito mal. Quando eu sinto raiva eu sinto um mal estar no abdômen, e é como se eu estivesse me corroendo. A respiração fica pesada e eu me sinto como se tivesse corrido uns 10 kilômetros sem parar e eu estivesse prestes a cuspir o meu pulmão. É uma das coisas que EU MAIS ODEIO SENTIR. Então caros isso gerava um péssimo círculo vicioso. Eu ficava com raiva da piranha, eu imaginava um assassinato básico, ficava mais puto por ter ficado com raiva, etc... O fato é que eu era uma pilha de nervos e eu fingia muito bem que eu era um cara CENTRADO. Mas a verdade é que eu tava mais pra aluno do Jack Estripador.
"Oh caro amigo, você não estava exagerando um pouco?"
Olhando hoje eu talvez estivesse, mas pensa um pouco. Você acorda de manhã e você JÁ SABE que o seu dia vai ser uma merda. Você é PUNIDO por ter inteligência (lógico, na cabeça dos moleques eu precisava passar 100 anos estudando pra tirar um 10 na prova) e ainda tem que aguentar alguém te pisando por causa disso. Mas com aquela garota isso tinha passado desses limites. Porra ela resolveu detonar com a minha auto estima. E de certa forma ela conseguiu. Eu nunca falaria direito com uma garota até os meus 16, 17 anos, sorte a minha eu nunca ter me apaixonado ou algo assim nessa época, do contrário eu provavelmente vomitaria perto da garota. Na época o meu sonho era matar alguém e pintar em sangue na parede pra ninguém repetir esse tipo de coisa comigo.

O que mais me choca é como os professores ignoram esse tipo de coisa. Na minha escola nós tinhamos coordenadores e professores de orientação educacional. Porra, eu queria um emprego desses, porque até hoje eu não entendo o que eles fazem. Será que é tão difícil entender o que aquele garoto está dizendo quando ele diz: "Caro coordenador, fulano me enche o saco. Me muda de lugar." Aí o coordenador diz que você tem que se acostumar.
Eu queria que o coordenador se acostumasse com uma piroca cheia de areia no cú dele.
O que o garoto diz é: "Senhor coordenador, eu quero deixar esse fulano paraplégico, muda de lugar pra ele não precisar de uma cadeira de rodas."
Tá bom, eu tou exagerando, mas no fundo no fundo ele tá dizendo:
"Coordenador, eu não gosto de sentir raiva. Hoje eu tenho raiva do fulano."

Eu até entendo o fato do Coordenador não poder atender a todos os pedidos. Mas certas coisas não deviam ser passadas em branco. Nós tínhamos aulas sobre drogas, sobre sexo, sobre construtivismo mas nenhuma das aulas falou sobre o que realmente acontecia nas salas. Ir na coordenação reclamar era um convite a ser marcado.
Olha só a situação:
1-Aluno reclama.
2-Coordenador chama pais dos alunos.
3-O seu colega sabe que você reclamou.
4-O idiota do coordenador não pode fazer nada porque ele precisa da mensalidade daquele aluno
5-Você é MAIS ZOADO.

Lógico, você pode ter este questionamento:
"Caralho amigo, você é muito intolerante. Aquele cara que te zoa deve ter problemas em casa."

DIGO-TE QUE NÃO!!!

Como eu disse eu estudava num colégio de riquinhos de merda. Nenhum deles era pobre. E posso afirmar que a grande maioria das pessoas que eu sabia que tinha algum problema (pais separados ou que não tinham um bom relacionamento em casa) eram as pessoas que MAIS FICAVAM QUIETAS.

"Ó DEUS!!! Por que essas pessoas terríveis fazem esse tipo de coisa? "
Porque falta uma coisa simples: disciplina.

Felizmente no Brasil o Bullying não é muito forte. MAS EXISTE. Pra quem não sabe, Bullying é aquela merda que nós vemos em filmes americanos aonde o cara forte da oitava série enfia a porrada no moleque da quinta e as escolas NUNCA FAZEM NADA pelo moleque da quinta.
RESULTADO: COLUMBINE.
Quando Columbine aconteceu aquilo não me surpreendeu nem um pouco. Na verdade eu me questionava se aquilo não devia acontecer todos os dias. Apesar disso eu achei aquilo BEM IMBECIL. Logicamente os moleques era uns perturbados e moravam num país que vendia balas mais baratas que comida. Eu estava puto, mas eu ainda era equilibrado e ninguém em casa tinha armas.

De qualquer maneira eu não posso me classificar como uma vítima de bullying. Talvez vítima das circunstâncias, mas certamente uma vítima. No fundo eu sabia que eu não podia reagir. Por que comigo algumas coisas funcionam um pouco no oito ou oitenta. Se for pra ficar com raiva eu fico mesmo. É pra rugir e cuspir sangue. Não é só pra levantar a voz. Então se eu realmente reagisse provavelmente eu quebraria um braço ou uma perna. E aí eu seria punido. Seria suspenso. Tomaria esporro em casa. Mas de quem é a culpa? É lógico que é do viadinho que teria me irritado por meses. Cara, pensa só, MESES de irritação. Eu quebraria o braço dele um dia só. Na minha opinião é barato até. Eu deveria quebrar um membro desse idiota todas as semanas.

Depois da sexta série, eu tive mais alguns anos de zoação. A sétima série foi ruim também pois nela eu aprendi definitivamente o que é ser excluído e na oitava eu escutei muitas palavras singelas de como eu era um idiota ou um bolha ou um nerd. Depois disso eu comecei a extravazar a minha agressão. Eu mandava as pessoas à merda mesmo. Um dia até jurei a um idiota que eu teria certeza de que a alma dele arderia no fogo do inferno (uma professora ficou chocada com a frase, mas dois minutos depois já tinha esquecido) . Isso ajudou (um pouco). Depois disso as coisas ficaram mais normais, afinal lá pelo segundo e terceiro anos as pessoas tem mais com o que se preocupar. Embora sempre houvesse uma pessoa pra vomitar palavras em você.

O resumo disso tudo é que por causa disso eu não virei um criminoso ou algo assim, estou satisfeito com a minha vida, mas certamente isso me modelou como pessoa. Eu sou extremamente fechado até hoje, tenho problemas pra controlar a raiva e de uns anos pra cá tive alguns ataques de ansiedade. Por causa disso meus escritores favoritos são Frank Miller e Neil Gaiman (algo de bom tinha que sair) e eu escrevo histórias violentas.
Outro resultado é que no final do meu terceiro ano aproximadamente um quinto da turma era composta de pessoas que eu classificaria como BANDIDOS/VÂNDALOS. Eu estudei num colégio que já havia expulsado um aluno homem por ter cabelos longos mas hoje não suspende nem por depredação do patrimônio.

Bem agora seguem alguns recados.

Parar pequenos nerds que são zoados:
1-Não sinta raiva. As pessoas que te zoam são UNS MERDAS. Eles não merecem a sua atenção.
2-A verdade dói. Se te zoarem porque você tira 10, fale a VERDADE: "Você é burro. Eu não."
3-Se você quer enfiar a porrada em alguém, não tenha medo de APRENDER a fazer isso. Seu queixo não é de vidro. Sinta o sangue fluir para os seus músculos. Só não saia quebrando todo mundo sem motivo. Você nunca começa uma briga. Você só termina.
4-Não zoe sem motivo. Senão você é tão merda quanto aquele que te zoa.

Para os professores:
1-Se você nota que tem algum aluno sendo muito zoado você não dá aquela parada na aula e explica que as pessoas são diferentes. Você explica o que aconteceu em Columbine. E explique com muitos detalhes.
2-Disciplina se aprende COM PUNIÇÕES.
3-Suspensão em casa É PRÊMIO.

Para os "fanfarrões":
1-Se você tira nota baixa e zoa o nerd você é um merda.
2-Sim, você é burro mesmo. Pra tirar um oito naquela prova de História era só você ter escutado o professor. Mas você ficou zoando, conversando ou algo assim. Aí na prova vira aquele pesadelo.
3-Você tira nota boa e zoa o nerd? Cara você é merda DUAS VEZES mais.
4-Você se reconheceu nesse post? Então se sinta feliz por estar vivo. E antes que eu me esqueça vai tomar cú.

Escrevendo este post eu revi vários momentos da minha vida na escola e vi como aquilo tudo era frustrante. Eu senti um pouco de raiva de novo.
Eu até hoje me sinto mal quando tenho raiva.

2 comentários:

ghfdc disse...

Faltaram as seguintes considerações:

1 - Por mais que pareça uma boa idéia, provavelmente ser mordido por uma aranha irradiada não te dará superpoderes para enfrentar o "valentão" da escola; e

2 - Leia Conan. Ele te ensina como agir no dia a dia. Exemplo: menininha implicou? Está fazendo malcriação? Solução do Conan: palmada no bumbum!

Lila Yuki disse...

Te amo! =)

*sem saber o que dizer*