segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Quadrinhos e Cinema - Parte 1

Hoje eu recebi finalmente a minha última aquisição na minha bilbioteca de quadrinhos: Absolute Watchmen
Ao folear as páginas logo me veio à cabeça que estão fazendo um filme pra valer baseado na obra máxima dos quadrinhos. E isso me deu um pouco de medo.
Alan Moore (o autor de Watchmen) nunca mais irá colaborar com adaptações de suas obras pois ele cansou de mudarem tudo. Dave Gibbons (o desenhista) pouco poderá fazer além de opinar no visual do filme. Tudo fica na mão de Zack Snider (diretor do futuro filme, dirigiu o aclamado 300) e de sua equipe. E isso me dá medo.
Para explicar tudo isso eu proponho a revisitarmos o início da onda de filmes baseados em quadrinhos. O que funcionou, o que não funcionou. E vou tentar delirar sobre o porque disso.
A nova onde de filmes de quadrinho explodiu depois do primeiro filme dos X-men. Isso é o que a maioria pensa. Na verdade tudo começou com Blade. Sim, o meio vampiro interpretado pro Wesley Snipes. O filme custou muito pouco mas rendeu bem. Era pouco pretencioso, era pura diversão pipoca e o personagem era um quase desconhecido da maioria das pessoas. Então os roteiristas podiam mudar muita coisa sem prejuízo para a Marvel (detentora do personagem). Deu certo. A Marvel que não andava super bem das pernas na época viu o potencial disso e resolveu arriscar mais ao licenciar X-men, o seu quadrinho de maior venda até hoje.
Com Blade a Marvel aprendeu lições valiosas:
1-O filme tem que vender.
2-Mude o que for necessário pra vender.
3- Nada de roupas ridículas.
Eles entregaram X-men para Brian Singer. E ele correspondeu bem. Um orçamento relativamente baixo (U$60 milhões), muitos atores desconhecidos (só Patrick Stuwart e Ian Mckellen eram realmente um atores renomados) e efeitos especiais no limite do orçamento fizeram um sucesso estrondoso. Estava aberto o caminho para todo o tipo de filme de quadrinhos.
Eu nem vou entrar no mérito do filme ser bom. Eu achei legal, e certamente naquela altura do campeonato era o melhor filme de quadrinho que eu havia visto. Ele tentou mostrar os personagens mais parecidos o possível dos quadrinhos sem deixá-los idiotas na tela.
Depois veio uma avalanche, mas o maior sucesso foi Homem Aranha. Vários outros vieram tentando repetir o sucesso, mas como sempre veio um mar de medíocridade.
Vamos começar a tentar ver os erros.
Demolidor: eu lembro que gostei desse filme, mas depois de ver algumas vezes foi fácil ver as coisas ruims. Cenas românticas desnecessárias, edição claramente feita pelos executivos do estúdio e não pelo diretor e um ator principal ruim (Ben Afleck).
Hulk: outro filme que eu havia gostado na época mas reconheço seus defeitos. Ang Lee dirigiu e tentou fazer o Hulk de Ang Lee quando devia ter feito somente o Hulk.
Esses dois filmes ensinaram coisas valiosas:
1- Quem deve fazer o filme deve entender um pouco de quadrinhos. Executivos de estúdio querem saber de dinheiro e só.
2- O diretor deve se ater a fazer o quadrinho transparecer na tela. O diretor não pode ser maior que o filme.
3- Caralho, usem atores bons, não escolham só pelo nome.

Vários filmes vieram e foram, uns mais ou menos e maioria medíocre. Alguém quer comentar A Liga Extraordinária??? O que dizer de Quarteto Fantástico??? Nem me fale de X-men 2 (vendeu bem mas é uma merda).
Os estúdios começaram a ficar com o pé atrás. Somente o Homem Aranha e os X-men eram a prova de falha. Os outros heróis não teriam seqüencias lucrativas. Então meus caros, veio a luz. E para ser mais exato ela veio em preto e branco. E vermelho.
Sin City, de Frank Miller.
Eu sou suspeito para falar. Mas Sin City abriu os olhos de muita gente. Os filme custara U$69 milhões, mas tinha no mínimo uma dezena de atores muito caros, efeitos especiais a rodo, uma fotografia absurda e uma história violenta e insana. E tudo foi filmado em fundo verde, somente dois cenários haviam sido construídos. O responsável por isso era Robert Rodriguez. Com sua câmera digital, boa vontade e o seu jeito "vamos trabalhar ganhando pouco mas fazendo algo legal" ele inovou e muito. Convenceu vários atores a atuar por uma fração de seus cachês pelo simples prazer de passar um quadrinho EXATAMENTE como ele é para a tela. E deu certo.
O filme vendeu bem, faturou muito mais do que custou e elevou Frank Miller a um patamar que ele nunca havia sonhado. Hoje ele vai DIRIGIR The Spirit (outro filme que me dá medo).
Mas por que esse filme deu certo? Por que esse é bom e os outros não?
Existe uma razão para isso. Rodriguez quis fazer o Sin City de Frank Miller e não o seu Sin City. E quando a matéria prima é boa, em geral o resultado é bom. A maioria dos filmes de quadrinhos deveriam pegar o melhor de cada personagem, lapidar o suficiente para caber numa realidade plausível e deixar uma boa trama fluir. Em suma, respeitar a essência dos personagens.
Hulk é o grande exemplo disso. Ang Lee tentou mostrar o conflito mental de Bruce Banner, mas se ele fosse um bom leitor de Hulk ele veria que as melhores histórias eram as que mais tinham alívio cômico. O Hulk em si não é muito profundo. Ele tem uma lógica quase infantil e é isso que o torna interessante. Hulk esmaga. E é por isso que gostamos dele. Mas Ang Lee gosta de filmes cabecinha. Ele gosta de BrokenAss Mountain. Ele acha que o Hulk dá um bom artigo de psicanálise. Ele esqueceu que Hulk esmaga.
No próximo "artigo" vou discutir a segunda geração de filmes de heróis. E novamente existem erros e acertos.

Um comentário:

ghfdc disse...

Já viu o elenco feminino contratado para Spirit?
Sério... Será necessário assistir pelo menos umas três vezes para que seja possível se começar a notar que há um filme "passando por trás" das atrizes...
Hehehehe...